O desejo de bem querer pela saudade

Ana Virgínia Santiago
Divulgação

Fecho os olhos para guardar dentro de minh’alma o esplendor que a melodia chega até o meu coração.

Uma melodia que acalenta o meu pranto triste desaguando nas saudades atemporais, eternas.

Saudades, sempre... Para sempre!

A melodia transporta meu pensamento para um ser muito especial que nasceu encantado pelas notas musicais.

Um menino perseverante no sonho que se tornou real e distribui mansa e levemente a paz que minh’alma precisa.

Ela também eleva meu querer pela encantada de Vênus, amparada pela Peixe Austral que tem brilho nos olhos e sorriso no coração.

Saudades, sempre... Para sempre!

O canto que me inebria faz com que eu  queira sonhar, alçar vôos intensos.

Descanso as minhas ferramentas do limpar, aspirar, varrer e recolher para, como passe mágico, transformar a vassoura do meu labor no alazão que me levará às constelações.

Necessito restabelecer a sintonia das saudades das , agora, luzes. Respirar fundo, ampliar o amor eterno e sorrir  pelas ausências que serão sempre presentes.

Saudades, sempre... Para sempre!

Preciso visitar as Nebulosas, descansar em Centaurus e apascentar minhas angústias na Coroa Austral. Lá adormeço e me alimento de energia para poder descer e reiniciar a minha função.

Quero voar embalada pela melodia que me fala do eterno.

Sempre, para sempre!

As minhas saudades são sublimes porque dão apoio às lembranças que me alicerçaram e passeiam entre os sorrisos e alegrias que minhas frestas de luzes vitais me enviam todos os dias.

Saudades que me fazem companhia e são queridas.

Saudades, sempre... Para sempre!

É necessário alcançar as Boreais, correr pelas Austrais e amparar meus sonhos nas Zodiacais para renascer embebida de forças.

Para espantar minhas fraquezas de solidão e de ausência de vozes e bênçãos.

Saudades, sempre... Para sempre!

Por isso o meu alazão tem asas e sobe, sobe, sobe...

A melodia que ouço continua em meus pensamentos, acompanhando-me.

Escuto...Notas compassadas no talento que, vagarosas, vão dando o seu recado.

Música é dom de uma Energia Eterna. É o Santo Graal do meu universo particular que faz milagres e renascimentos no meu  coração.

Ela é a força que preciso para continuar e retornar, às vezes...

Queria voar, voar mais, bailar com os  meus pensamentos encharcados de saudades, porém não tristes e ficar mais tempo em Andrômeda.

Talvez para embebedar minh’alma de recordações que me dão paz.

Contudo,  sou Faxineira de Sonhos e Varredora de Ilusões. Preciso ancorar no porto de minha aldeia...

O mesmo encantamento que transportou o meu alazão para os céus- a doce melodia do sempre, para sempre-   traz de volta o meu ser que deixa de ser etéreo para pisar no chão de minha terra.

Porque sou Faxineira de Sonhos e Varredora de Ilusões tenho o doce dever de olhar por ela. Como todos que nela  moram.

Saudades, sempre... Para sempre!

Vasculho os cantos que precisam ser limpos colocando em cada um a doce melodia que precisa operar milagres.

Milagres do fazer minha aldeia nobre retornar ao  seu porte de princesa. Recriar as vontades de colorir suas praças. Cadê as flores? Cadê as árvores? Cadê os seguidores do jardineiro do palácio que transformava a flora em fauna e fazia de nossos olhos infantis   o brilho das estrelas reconhecendo as aves, os felinos nas árvores dos nossos jardins?

A melodia  que me acompanha fala de tantas saudades, de tanta dor pela perda parida no desamor que viro, reviro e revejo ,na imaginação, a minha aldeia de infante...

Cadê a história e os contares de tantos homens e mulheres que construíram a amada terra?

Por que as gentes daqui não incentivam alguns forasteiros a amar a nossa aldeia?

Em que lugar estão enterradas as palavras e atitudes que nos envaideciam?

Saudades, sempre... Para sempre!

A autora Ana Virgínia Santiago é jornalista, escritora, cronista e poeta do sul da Bahia