´Ficamos sabendo pelo Diário Oficial´, fala Abobreira sobre exoneração do filho

Abobreira no braço direito de Jabes durante a campanha
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Se há na política um fato que o ativista social José Henrique Abobreira não pode ser acusado é de falta de lealdade a Jabes Ribeiro. Abobreira era uma das poucas vozes populares que tentava, publicamente, diminuir as chamas da desconfiança e do desprestígio popular enfrentando pela administração de Ilhéus. Lealdade que não é de agora, diga-se de passagem.

Entre 1997 e 2000, militante do PT, Henrique Abobreira foi vice de Jabes em uma das suas administrações. Foi o período que o prefeito de Ilhéus, eleito pelo movimento das esquerdas, resolveu abandonar o barco e alinhar-se ao carlismo, à época, segundo ele, pelo pragmatismo de poder governar a cidade.

O petista Henrique Abobreira, avisado de última hora, teve que "engolir à seco" a mudança mas não abriu mão de preservar o amigo. Se afastou silenciosamente do governo, sem rompimentos extremados. À época, fala-se a "boca pequena", Jabes tentou apaziguar a situação, oferecendo ao parceiro uma secretaria municipal. Abobreira não aceitou. Preferiu candidatar-se (e vencer) uma eleição para vereador.

O tempo passou, Jabes perdeu eleições, com Abobreira lhe apoiando. Ganhou eleições, com Abobreira, também, ao seu lado. Com problemas de saúde sérios, José Henrique Abobreira não titubeou em 2012. Venceu as limitações físicas, subiu no palanque e andou com o amigo. Fez campanha e parceria, como a que resultou na reforma completa da praça São João, no bairro do Pontal, onde mora e milita em movimentos sociais.

Pois bem: Jabes exonerou o filho de Abobreira da gestão municipal. Mais recentemente, muito tempo depois, num breve telefonema ao "amigo" justificou a decisão tomada, acusando Fred Abobreira de ter faltado algumas vezes ao trabalho. Fred, de fato, acompanhou o pai em alguns momentos a Salvador. Foi visto por secretários do próprio Jabes empunhando uma cadeira de rodas no setor de Embarque do Aeroporto de Ilhéus. Garante que jamais deixou pendências ao precisar viajar e levar o pai a um tratamento esporádico que faz em Salvador.

Convenhamos, também, que pelo tamanho da amizade, demitido fosse a decisão tomada sobre o rapaz, caberia ao próprio Jabes, aquele que na campanha não se cansou de procurar Abobreira, o primeiro a lhe informar sobre a medida. Se não pessoalmente, pelo telefone. Abobreira é intimo de Jabes, não do Diário Oficial.

Ontem à noite, um jornalista do JBO conversou com Abobreira sobre o caso. Mais na condição de amigo do que propriamente de profissional de comunicação. No meio da conversa, o jornalista solicitou autorização para publicar o conteúdo dela. Foi autorizado. Abaixo, o bate-papo entre o jornalista do JBO e o ativista social José Henrique Abobreira.

 

JBO - O que houve? Nem um aviso ao amigo?

Abobreira - Tem mais de mês esse fato. É que você me conhece e sabe que não sou de conversar. (risos)

Repito: assim, sem nenhuma satisfação?

Hoje (ontem) ele (Jabes) mandou um emissário aqui em casa dizendo que tudo foi uma trapalhada do Jhon (irmão do prefeito e, teoricamente, sem cargo no governo) e perguntei se ele assina sem ler e se Jhon é o que mesmo? Primeiro ministro, secretário, vice prefeito? Qual a influência real dele na Educação? A secretária é só de enfeite?

Como Fred ficou sabendo?

Soube pela boca da oposição que tinha sido publicado no Diário Oficial.

E nem um telefonema?

Não. Só tocou no assunto no dia da reinauguração da praça (São João) achando que eu iria comparecer. Mas lá não fui. Ele exonerou Fredinho no dia 14 de maio retroativo a 11 de maio e telefonou dia 22 para ver se eu iria à praça, talvez em troca da renomeação do meu filho. Mas tem coisas que o auto respeito não permite.

Você apoiava o governo. Publicamente, inclusive, melhor do que muitos membros do primeiro escalão da administração municipal...

... Na realidade o apoio a ele deu-se não pelo cargo a meu filho. Mas pelo projeto da praça que impus quando subi no palanque. Esse projeto eu consegui realizar. Mas outra parte importante ele não cumpriu, que seria estabelecer um conselhão de desenvolvimento para gente travar as discussões da cidade com a sociedade organizada. Ele fugiu desse compromisso e até o Fórum Compromisso com Ilhéus (uma ideia do governo para debater com a sociedade organizada) ele desativou. Era uma lealdade em favor da cidade depois das merdas que o PT fez com Newton Lima. Mas essa turma não entende essa questão das lealdades democráticas.

O que de fato está autorizado a publicar desta nossa conversa que começou sem interesse jornalístico?

O assunto já se tornou público embora isso tenha acontecido no mês passado. Não vou sair xingando, obviamente. Não é meu estilo. Existe essa proposta da Frente pelas reformas populares que é um movimento nacional e já vinha havendo um desconforto com o modus operandi dele em relação à falta de comunicação com os setores. Somente aparelhmento dos conselhos pelo povo dele, inclusive provocando o afastamento de (José) Nazal, (Maria do) Socorro e Cid Póvoas. A renúncia do presidente do PCdoB local (Rodrigo Cardoso) é um atestado desse afastamento dele. Minha postura será de procurar alternativas e não de  ficar trocando xingamento. Quero ressaltar isso aqui. A planície não me assusta, nunca me assustou.