Hajime! - A Saga do Judô no Sul da Bahia
A filosofia do judô pode ser resumida como a elevação de uma técnica a uma doutrina de vida dividida em três princípios básicos: suavidade (ju), máxima eficiência com o mínimo de esforço (seir yoku-zen-yo) e bem-estar e benefícios mútuos (jita-kyoei). Esses princípios devem ser aplicados à elevação do espírito e do corpo na ciência do ataque e defesa, com ordem, harmonia, disciplina e concentração.
Elaborado pelo mestre japonês Jigoro Kano, em 1882, o judô começou a ser praticado no Brasil após 1940, em São Paulo. Na Bahia, até o início da década de 1950, existia apenas um faixa preta oficial em Salvador: Moaci Sintra, funcionário do Banco do Brasil, graduado pela academia Cordeiro, no Rio de Janeiro, casado com a canavieirense Lícia Viterbo Lima.
Com um pequeno dojô em sua residência, Moaci praticava judô com amigos, mesma época em que Geraldo Blandy Mota, médico, aficionado do esporte, também mantinha em sua residência um curso de defesa pessoal, na Rua Ferreira França, nº 58. A seu convite, veio a Salvador o sensei Massajiro Saito, que deu início à fase pública do ensino do judô na Bahia. Logo depois, o próprio Geraldo fundou o Spartan Ginasium, que foi afiliado à Federação de Pugilismo da Bahia.
A partir daí, em junho de 1959, foi realizado o Primeiro Campeonato Bahiano de Judô, no Clube Bahiano de Tênis, no qual participaram apenas atletas do Spartan Ginasium, única agremiação oficial do Estado.
Já no ano seguinte, por iniciativa do médico Geraldo e do presidente da Federação de Pugilismo da Bahia, Fauzi Abdala João, atletas representando o estado participaram pela primeira vez do Campeonato Brasileiro de Judô, realizado em Brasília. A equipe baiana era formada apenas por 3 atletas: Tolentino Luciano de Souza (faixa preta), Hélio Alberto Noronha (faixa marrom), de Salvador, e Pedro Augusto da Costa Pereira (faixa marrom), de Canavieiras.
Foi o momento da expansão do judô na Bahia. Em 1961 foi realizado o Terceiro Campeonato Bahiano de Judô, do qual participaram três agremiações: o Spartan Ginasium, a A. A. B. B. e a Escola Politécnica da Bahia.
Na década de 1970, os canavieirenses Antônio Costa, em Salvador e José Delfino Ribeiro, no Rio de Janeiro, colocaram o nome da região em realce, por meio da prática do judô.
O sensei Pe. Alberto Kruschewsky, em Itabuna, foi o grande precursor regional do judô. Contudo, sem deslustrar o seu mérito, o nome de Zito Cordier, desde a década de 1970, merece destaque como incentivador e disseminador.
Itabuna sempre esteve em evidência com relação ao judô em nível regional, nacional e internacional. Além dos nomes acima mencionados, outros têm se destacado, tanto como atletas de realce, quanto como mestres de categoria: Manoel Roberto de Souza (Samurai), Luciana Fonseca e Tina Kruschewsky (Sogabe), esta última que esteve como reserva na Olimpíada de Seul, e ainda outros de academias como Ipon, Kimura, e Sol Nascente.
A despeito de destacados nomes, em Canavieiras, a história do judô começa de fato na década de 1980, com a chegada do professor Carlos Cavalcante, casado com a canavieirense Denise Melo, quando foi criada a Associação de Judô Yoshida.
Em 15 de dezembro de 1984, foi realizado o I Torneio de Judô para Adultos, em Canavieiras, com a participação das academias Samurai (de Itabuna) e Raiz (de Ilhéus). A mesa que coordenou os trabalhos foi presidida pelo professor Yoshida (6º dan), de Salvador. A Associação de Judô Yoshida participou ainda de vários torneios regionais, estaduais e interestaduais, com bons resultados.
A década de 1980 foi gratificante para o judô regional, com boa atuação de nossas academias, como a Associação Samurai de Judô, que venceu o Campeonato Baiano de Infantis disputado no Esporte Clube Bahia, em 1985.
Em 1986, a Bahia foi representada no V Torneio Interestadual de Judô, em Niterói/RJ, pelas academias Apolus e Raiz (Ilhéus) e Yoshida (Canavieiras), que ficou em 11º lugar no certame geral e em 1º lugar entre as baianas.
Com a saída do professor Carlos Cavalcante, o judô em Canavieiras perdeu força. A Copa Baiana de Judô de 1992 foi vencida pela Associação de Judô Paulo Fraga. Mas, na primeira etapa do circuito estadual masculino, classificatório para o Campeonato Brasileiro Sênior, que seria realizado em Cuiabá, entre os campeões estavam Cláudio Alves e Claudionor Macedo Filho residentes em Canavieiras, onde fundaram a Academia Macedo Filho de Judô.
Claudionor também participou de uma competição nos Estados Unidos, sendo classificado entre os melhores do torneio.
De lá para cá, outros nomes têm se destacado no judô do Sul da Bahia, tais como: Maximiliano Mendonça, Eduardo Ferreira, Rafael Iglesias (todos da Samurai, Itabuna); Daniel Valverde (da Raiz, Ilhéus), de projeção internacional, e Edimerson Conceição Simplício (originário da Yoshida), fundador da Associação Nissei de Judô (2003). Hoje, faixa preta terceiro dan, árbitro nacional, delegado da 5ª Delegacia Regional de Judô, é uma referência para o judô na Bahia.
Em Ilhéus, além da Academia Raiz Judô e da família Valverde, que deram expansão e expressão ao judô regional, outras academias também merecem destaque como a Academia Renascer de Ilhéus e Associação Recreativa Poliesportiva do Malhado.
Segundo a Unesco, o judô é o melhor esporte para a formação de crianças e jovens, de 4 a 21 anos, e tem como divisa “não se aperfeiçoar para lutar, mas lutar para se aperfeiçoar” nesse caminho da suavidade.
O autor Durval Pereira da França Filho é professor de judô.
dumaestro11@hotmail.com