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Gérson Marques
Arquivo/Maurício Maron

Existe um povo privilegiado, que vive ali, mas existe outro ainda mais privilegiado que vive aqui.

Os donatários de uma terra matizada em verdes e azuis,  mil tons e semitons, de florestas encantadas, rasgada por vales e  rios, habitada por fauna e flora onde a exuberância tem seu labor, e a chuva brinca de esculpir vales entre colinas verdejosas, não conhece extremos, tudo é ameno e sereno, o mar lambe praias infinitas, em sua  generosidade de azul celestial nos oferece frutos vivos, torrentes de nutrientes  sabores de mesas ricas.

Outros frutos também vicejam, em dezenas de variedades, entre eles um pingo de ouro, onde Theus fez Broma, a beber em rituais sagrados de ascendência Maia, que aqui virou riqueza de por comida na mesa, multiplicou-se em fartura e beleza.

A terra prometida dos pindorameiros ou seria pindomorenses, sei lá, qual o nome dessa gente nascidos aqui em Pindorama? Seriam  Grapiunas? ou nada disso, somente Pataxos, Tupinabás, Camacans e Mongoiós.

Uma ilha, outra ilha, um Ilhéus, e muitos itas, herdado da língua gostosa dos Tupis e tapuias, e suas pedras brancas, pretas, azuis, a pedra torta a pedra que ruge a pedra furada.

Terra das águas, de Iasã, dos muitos rios, riachos, boqueirões, corgo, nascentes, caudais e riachões, fluidos de vida, torrentes de nutrientes em forma de víveres aquáticos, onde a colheita se faz na ponta do anzol, no malho das redes, no jiqui e no jererê. 

Oré noun desta terra, comedores de raízes, mandioca, aipim, macaxeira, inhame e cará, gente acolhedora, e também  colhedora, extrativistas dos frutos arbóreos, onde no erguer da mão se encontra o cajá, as pitangas, jambos, jabuticabas, araçás, jenipapos e carambolas e tudo que de mais há.

Na criação de mundo, o que poucos sabem, segredo de sete chaves é que nesta terra de Pindorama, quis Deus, que aqui se fizesse uma espécie de almoxarifado de suas matérias essenciais, deposito da criação, estocava aqui o que usaria em sua sanha criativa por todo lugar.

Do madeira-me, plantou os jacarandás,  jequitibás, Ipés, pau  ferro, jatobá, angelins e mil outras espécies, em tamanha profusão que a tudo florestou.

Nada pode ser muito bem explicado, essa magia da essência, esse clima hidrófilo, essa profusão de cores, essa gente plurirracial, os descaminhos, as delongas os amores irascíveis e as glórias nunca vindas, mas vividas.

Ora, ora sei lá como, sobe o menino na Serra do Jequitibá, faz de lá uma canção, um canto de louvor, um hino a tamanha beleza, a esse estupor de infinita grandeza, e de lá um tambor ecoa na mata, e a magia tá explicada, tentada, cantada.

Queiram os Deuses de todos nós, mortais de terras imortais, habitantes passageiros desse paraíso, que sejamos dignos dessa eco, nossa Gaia essencial, e que de nossos ventres floresçam quem de fato as mereçam, tamanha glória existencial.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Thame. O autor Gerson Marques é produtor de cacau e chocolate na Fazenda Yrerê e Diretor Presidente da Associação dos Chocolateiros  do  Sul da Bahia