Exames nas escolas públicas mostram causas na dificuldade de aprendizagem

Em 2012, por falta de condições mínimas de funcionamento, o Ministério Público interditou a Escola Nucleada Aritaguá I, na localidade rural de São José, em Ilhéus. À época, a gestão municipal decidiu alugar alguns imóveis em propriedades rurais da região para atender as crianças matriculadas naquela unidade municipal de ensino. “As obras de reforma do imóvel, só vieram acontecer entre julho e outubro do ano passado, último semestre da gestão anterior”, lembra a diretora da escola, Silmara Assunção. “Mas quando pensaram em reinaugurar a escola, as autoridades foram impedidas pelos trabalhadores que protestaram contra a falta de pagamento do serviço”, completa. Sem condições de utilizar o espaço, as aulas daquele período continuaram a ser ministradas nas casas alugadas mesmo a reforma do espaço próprio tendo sido concluída, onerando os custos operacionais da secretaria de Educação.

Mas no início do atual mandato, por determinação do prefeito Mário Alexandre, todos os valores de imóveis alugados pela Prefeitura passaram por uma rigorosa reavaliação. Muitos foram reduzidos. Alguns, como os utilizados por esta escola nucleada, foram desfeitos. A escola que estava pronta e não havia sido reinaugurada passou por uma manutenção básica e ontem (25) o prefeito Mário Alexandre reabriu a unidade que voltou a atender a 620 estudantes da Educação Infantil ao 9º ano, do EJA (Educação de Jovens e Adultos) e do EMITec, um programa de ensino médio com intermediação tecnológica do Governo do Estado.

Com medidas como esta, de voltar a ocupar espaços próprios, de reduzir horas extras, aulas suplementares, adicional noturno e acabar com os inúmeros desvios de funções, a Prefeitura de Ilhéus passou a economizar cerca de 1 milhão de reais por mês somente na Educação, recursos que, segundo Mário Alexandre, agora passam a ser aplicados na melhoria da estrutura dos prédios escolares e na qualificação do aluno. A Escola Nucleada é estrategicamente importante na estrutura da Secretaria Municipal de Educação, já que atende a estudantes das localidades de Novo Ilhéus, Itariri, Bom Gosto, Valão, Assentamento Nova Vitória, Fazenda Riachuelo, Reis Cerqueira e Lava-Pés.

Uma nova forma de estudar - “Nestes cem primeiro dias de gestão já ampliamos o conceito da administração sobre o que é promover educação e aprendizagem”, revela a secretária de Educação, Eliane Oliveira. “Uma escola não pode ser mais um conjunto de quatro paredes, alunos, professores e uma louça. É preciso entender a realidade de onde estes alunos vivem e com o que eles convivem, a realidade de vida deles”, sentencia. Por isso, todos os 4.500 alunos da zona rural de Ilhéus vão passar por um exame de processamento visual para avaliar casos suspeitos de distúrbios de aprendizagem entre os matriculados na rede.

A iniciativa é do Projeto de Reabilitação e Orientação para Deficientes Visuais (Prodevi), do curso de Fisioterapia, da Faculdade Madre Thaís(FMT), através de uma parceria Secretária de Educação e Hospital de Olhos Elclin. Ontem (25) na Escola Nucleada de Aritaguá, uma certeza de que esse novo modelo de educação inclusiva implementado nos primeiros meses pelo prefeito Mário Alexandre pode gerar bons frutos. Das 31 crianças que passaram pelo teste, todas apresentaram um preocupante quadro de má formação neurológica. No entanto, o diagnóstico precoce da doença permitirá que eles passem por tratamento e voltem a ter uma vida escolar normal.

Integrar ao SUS - O próximo passo, de acordo com Eliane Oliveira, é integrar este tratamento ao Sistema Único de Saúde (SUS) para que venha a ser gratuito para a população de baixa renda. Coordenador do projeto, o professor Renato Gonzaga Barreto explicou ao prefeito Mário Alexandre que antes de iniciar o trabalho de campo o curso de Fisioterapia da Faculdade capacitou os professores da rede municipal a selecionarem escolares que tenham sinais de dificuldade de aprendizagem relacionados à leitura. Ana Sônia dos Santos Souza, de 35 anos, moradora da comunidade, tem duas filhas e duas afilhadas estudando na escola nucleada. “Sempre achei que minha filha mais nova não tinha ânimo para estudar. Pensei que era preguiça. Agora sei que o problema é de saúde e ela precisa ser tratada”, reconheceu.

Estudante do 6º semestre de Fisioterapia, Mayara Fernandes, 21 anos, disse estar surpreendida com o alto índice de má formação neurológica entre os alunos. “Para nós também tem uma importância no aprendizado trocar a teoria pela prática e perceber a realidade de uma comunidade carente como esta”, disse. Esta é a segunda escola visitada pelo grupo de estudantes. Na primeira, em Couto, os mesmos exames foram realizados com a descoberta de vários casos neurológicos. Todos os discentes do Curso de Fisioterapia participam do Prodevi, que vai ocorrer durante o ano de 2017, sempre durante as tardes da última terça-feira de cada mês. A sequência das escolas municipais está sendo organizada pela secretaria de educação, conforme demanda encontrada pelos professores.

Segundo o professor Renato Gonzaga Barreto, “a relação entre desenvolvimento visual, habilidades viso motoras e perceptuais quando bem integradas proporcionam a base ideal para a aprendizagem. Nesta, ocorre ativa participação do individuo que precisa direcionar o olhar e sustentar o foco de sua atenção para manter a aquisição contínua de informações do meio ambiente”.O professor destaca que “na leitura temos os movimentos oculares rápidos, intercalados com uma estabilização temporária do foco para analise da informação, integrando assim habilidades de diferentes centros neurológicos”.“Atribui-se a Visão papel importante na Aprendizagem, sendo esta dependência estimada entre 60 a 70 % até os 09 anos de idade e permanecendo como sentido maior da adolescência à terceira idade e quando falho, impactos podem ser gerados no processo de leitura, bem como na segurança e qualidade de vida,” conclui  Renato Barreto.

Presenças - Na reabertura da escola, ocorrida nesta terça-feira, o prefeito Mário Alexandre esteve acompanhado da secretária Eliane Oliveira; demais dirigentes da Seduc, além dos vereadores Paulo Carqueija (PSD), líder do governo na Câmara, e do seu colega de parlamento, vereador Nino Valverde (PSB).