Conselho Rural revela a força e a organização do pequeno agricultor de Ilhéus

Produtores unidos juntos ao Conselho Rural
Maurício Maron

Há seis meses dono de uma pequena propriedade rural na região de Santana, Raimundo Alcântara não consegue plantar as cinco mil mudas de abacaxi que comprou. “O carro não sobe a ladeira. A estrada está muito ruim”. A queixa do assentado José Santos Araújo é a mesma: anda preocupado diante da possibilidade de perder parte da produção de banana e aipim que cultiva ao lado de 36 famílias no Assentamento Nova Vitória, distrito de São José, em Ilhéus. As estradas vicinais precisam de melhorias e viagens que deveriam durar de 40 a 50 minutos chegam a demorar duas horas. “A gente perde muita coisa pelo caminho e pela demora de chegar”, lamenta.

Se as queixas individuais parecem longe de solução, os pequenos agricultores acreditam na força da união. Todas as primeiras terças-feiras do mês o Conselho Rural de Ilhéus se reúne para ouvir as reivindicações, trocar experiências, apresentar inovações no campo e buscar soluções coletivas junto às autoridades políticas locais. “O conselho é a voz do homem do campo”, resume o presidente da Coofasulba (Cooperativa da Agricultura Familiar do Sul da Bahia), Dero Farias. Um dos idealizadores do conselho, Dero explica que a entidade – em atividade desde 1998 – é representada por associação de moradores, colônias de pesca, pequenos agricultores, comunidades indígenas, assentados, dentre outros segmentos do interior.

Importância - “A nossa representatividade é importante para a economia de Ilhéus. Oitenta e cinco por cento da zona rural de Ilhéus é habitada por agricultores familiares, temos 1.180 quilômetros de estradas vicinais e precisamos de mais atenção”, destaca o associado da Coofasulba e liderança rural, Erivaldo Alves. Hoje, além de debater os problemas individuais em um contexto coletivo, pequenos agricultores ainda participaram de palestras com técnicos da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB). Uma delas sobre os perigos da “Sigatoka Negra” no estado. A doença ataca as folhas da bananeira e reflete diretamente na qualidade e na quantidade da produção. No interior de Ilhéus o cultivo da banana é grande.

A coordenadora na Adab do Programa de Prevenção à Monilíase no Cacau e da Sigatoka Negra na banana, Catarina Matos Sobrinho, uma das palestrantes do dia, destacou que o clima da região é propício à doença, que já atinge a 10 municípios produtores da Bahia, alguns próximos a Ilhéus, no baixo-sul do estado. Por isso é importante manter a comunidade alerta, de olho no que acontece nas suas plantações. “A idéia é essa. Estar próximo do pequeno agricultor, alertando. Ações educativas como estas facilitam o nosso trabalho no campo”, elogia a iniciativa das reuniões mensais o gerente técnico da Adab em Ilhéus, Maurício Polycarpo.

Diretor técnico da Biofábrica, Maurício Galvão também elogia a função do Conselho Rural. “Encontros como este nos permitem apresentar o que temos de inovação em mudas clonadas, apontam novas tendências de relacionamento com o homem rural e nos dá a verdadeira realidade do campo em nossa região”, destaca. Da reunião de hoje “seo” Raimundo e “seo” José saem do auditório do escritório local da Ceplac com uma certeza: o conselho rural é a grande possibilidade de vencer os desafios e as dificuldades enfrentados na zona rural de Ilhéus.