Policial Militar - Lutar ou Morrer?, por Reginaldo Silva

A Polícia e um triste diagnóstico
Arquivo/Maurício Maron

Existirá no trabalho diário contra o crime, na segurança da população e patrimonial, na linha de frente, algum politico, profissional de imprensa, um juiz, um promotor? O coronel, o major, o capitão, e o tenente, se não houvesse sargentos, cabos e soldados teriam grandes dificuldades na linha de frente. Nas favelas, becos, periferia, campos de futebol, festas populares, na guarda dos presídios, nas madrugadas frias ou quentes, quem está na linha de frente?

No Brasil em 2017 temos aproximadamente 202 milhões de habitantes e, aproximadamente, 425,2 mil policiais militares e 117,6 mil policiais civis, ou seja, um PM para cada 473 habitantes e um policial civil para cada 1.790. Em algumas regiões do pais há uma enorme diferença entre o efetivo policial e a população, ou seja, um policial para quantos habitantes? Regiões: Sul 49.430 (1 - 583), Nordeste 109.341 (1 - 510), Sudeste 186.219 (1 - 454), Norte 42.129 (1 - 403), Centro-Oeste 38.129 (1 – 393).

Pode ser que parte dos políticos, da imprensa, muitas sensacionalistas, outras irresponsáveis, acreditem que policiais vivem de brisa. Sabem eles que em serviço essencial não se pode ter greve. Esquecem eles que por detrás das fardas estão homens e mulheres. Na polícia militar 10% e na civil 26,5% são mulheres. Todos sabemos do regime disciplinar, dos riscos e desvalorização constantes que a profissão vem sofrendo nos últimos anos. Quem quer ouvi-los? O que tem sido feito de suas reivindicações?

Em alguns estados policiais militares, como, o Espírito Santo, tem seus familiares na luta por melhorias salariais e condições de trabalho. Dia e noite acampados nas portas dos quartéis procuram dizer aos governantes, a população, que está difícil sobreviver. Vão ao trabalho e não sabem se retornam! Afinal é lutar ou morrer.

No ano de 2016, no Rio de Janeiro, 390 policiais foram baleados, 111 não resistiram. Nesta luta, 363 eram PMs, 22 eram policiais civis, 4 eram policiais rodoviários federais e 1 era policial federal. Destes, 233 estavam de serviço, 132 estavam de folga, 21 eram reformados, 2 eram aposentados e 1 era recruta. Do total, 136 foram atingidos em áreas pacificadas. Na Bahia foram 23 mortos. Os policiais além de lutar para garantir a segurança de todos, ha muito precisam lutar para não morrer.

Sabemos, da cultura militar de mantê-los como reservas das forças armadas, das condições de trabalho, das dificuldades na seleção e formação dos quadros. Do outro lado, apontam, que 3022 pessoas, oito por dia, foram assassinadas por policiais militares (9. Anuário de segurança pública, Folha São Paulo, 03/10/15). Mas, não apontam como se dará a valorização e a garantia das condições de trabalho.

Porque grande parte da população e da mídia teima em não enxergar a triste realidade das condições de trabalho e valorização, em dizer que não podem fazer greve, não podem deixar a população descoberta. Porém, não conseguem explicar porque resta ao Policial Militar: Lutar ou Morrer? 

Ao comemorarmos 192 anos de criação da corporação no estado da Bahia, melhor seria que, cada um de seus integrantes fosse recebido em casa com saúde e segurança, ao invés de uma medalha por bravura post mortem.

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O autor é o professor Dr. Reginaldo de Souza Silva, Coordenador do Núcleo de Estudos da Criança e do Adolescente – NECA-UESB