Redescobrindo o Sul da Bahia

Walmir Rosário
Divulgação/Waldyr Gomes

Em meio à inundação de notícias desconstitutivas sobre o Brasil como um todo, começamos a vislumbrar que a região do cacau, finalmente, começa a nos mostrar alguma coisa de boa, útil e produtiva. Trata-se da implantação da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) na área Ceplac, às margens da Rodovia Jorge Amado.

Finalmente, a razão, a inteligência e o bom senso conseguiram superar o atraso, o corporativismo maléfico, o provincianismo, as ideias retrógradas, a pequenez e o atraso. E essa tomada de atitude posso credenciar, principalmente, ao então Superintendente de Desenvolvimento da Região da Cacaueira do Estado da Bahia (Sueba), Juvenal Cunha Maynart, e o Magnífico Reitor da UFSB, Naomar Monteiro de Almeida Filho.

É a produção de ciência, de conhecimento, implantada no mesmo local que, por décadas, pesquisou e entregou à Nação Grapiúna todo um pacote tecnológico de desenvolvimento. Concebida num tripé de pesquisa, extensão e ensino, a Ceplac foi além de sua proposta inicial de prestar serviços financeiros aos cacauicultores e transformou a socioeconomia regional numa das mais eficientes do Brasil.

Não se conhecia no final da década de 50, toda a década de 60 e 70 região com uma infraestrutura igual ao Sul e Extremo Sul da Bahia. De repente, da luz do candeeiro passamos à energia elétrica; do transporte ao lombo de burros às boas estradas; das demoradas cartas ao telefone e telex; da economia precária à retomada do crescimento agropecuário e comercial.

Tudo isso foi possível com o trabalho eficiente dos técnicos da Ceplac, liderados  por Carlos Brandão e José Haroldo Castro Vieira, Paulo Alvim, dentre outros. Com o passar dos anos, a Ceplac se consolida como instituição científica, muda conceitos e costumes. Como toda grande instituição, sofre com as ingerências, seu técnicos se acomodam. Um novo despertar chega com a terrível descoberta na vassoura-de-bruxa nos cacauais do Sul da Bahia.

A partir desta época, a região já carecia de lideranças capazes de aglutinar os segmentos políticos e produtores em torno de uma projeto inovador eficiente. Mesmo assim a região soube sobreviver, agora com a capacidade da iniciativa privada, formada por um novo perfil de cacauicultores, preocupados com os investimentos realizados.

Essa dicotomia permaneceu até a chegada de Juvenal Maynart à Superintendência Regional, apresentando propostas inovadoras, o que causou um certo desconforto em um grupo de servidores e a sensação de alívio para os produtores de cacau. Nada que não fosse possível administrar com o aparecimento dos novos resultados positivos.

A proposta do novo superintendente era bem simples e se calcava em premissas conhecidas no agribusiness internacional que pretende produzir com eficiência, conviver pacificamente com o meio ambiente e agregar valores ao seu produto. Essa inovação aqui já é considerada uma prática vitoriosa em grande parte do mundo.

Preserva-se o que tem, amplia-se a produção com produtividade, evita-se o ataque de pragas e doenças e promove uma defesa fitossanitária eficiente para o aparecimento de novas endemias. Entretanto, essas ações somente serão possíveis a partir do momento em que a agricultura e a ciência caminharem juntas para oferecer um produto inovador ao mercado.

E essa moderna concepção de produção só conseguirá atingir o seu alvo a partir do momento em que a ciência possuir todos os meios de transferir esse conhecimento ao produtor. Tão importante quanto a descoberta de novas tecnologias é saber “vendê-las” a um mercado ávido para “comprá-las”. E aí é que reside o nosso “calcanhar de Aquiles”.

Mesmo com toda a transferência de tecnologia já feita por instituições como Ceplac, Uesc e empresas privadas, os nossos agricultores ainda carecem, e muito, dessas ferramentas para trabalhar. Uns não têm capacidade de contratar recursos, outros não acreditam nessas inovações, e um grupo maior sequer tem conhecimento das novidades.

Daí que acredito ter sido o magistral o salto de qualidade da gestão de Juvenal Maynart na Ceplac ao abraçar e propor parceria à  Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Outras existem, mas a UFSB apresenta uma proposta inovadora, que não basta fazer ciência, mas apresentar o conhecimento para todos, com uma metodologia diferente.

A UFSB, nos moldes pensados sob a liderança do Professor doutor Naomar Monteiro de Almeida Filho, oferece o conhecimento e a ciência para todos, mas prima pela formação de acadêmicos entre a população das várias cidades onde atua. Isto, sim, é a universalização do conhecimento, mudando o conceito de cidade dormitórios para estudantes.

A partir da implantação desse conceito, teremos em praticamente todos os municípios uma massa forjada na academia com capacidade de enfrentar os  desafios e superar as velhas dificuldades. Na área esvaziada da Ceplac passaremos a contar com parque tecnológico atuando em quatro vertentes – Tecnologia da Inovações; Biotecnologias em Alimentos, com ênfase em cacau e chocolate; Logística, e Agroflorestais.

Nas cidades onde estão sendo implantados os Colégios Universitários, os alunos poderão cursas as matérias gerais, agora sem o esforço de enfrentar intermináveis e cansativas viagens de ônibus, o que facilitaria o aprendizado. A população como um todo ganharia, de imediato, na qualidade dos serviços, e no futuro, de uma grande massa pensante capaz de transformar a realidade.

A grande sacada é que em cada um desses colégios deverão ser implantados cursos que completem a vocação da cidade, dentro de diretrizes que apontam  as matrizes econômicas e sociais de desenvolvimento. Essa simbiose entre as ações governamentais, academia e iniciativa privada darão direcionamento às atividades de pesquisa, extensão e ensino.

O autor Walmir Rosário é advogado e jornalista