A Coelba, a treva e a escuridão

Alcides Kruschewsky
Arquivo/JBO/Maurício Maron

Luz e trevas jamais se unirão. Se arrependimento matasse, o arrependimento pela privatização frouxa da COELBA, mataria os baianos de desgosto e frustração. É tão banal os apagões em nossa cidade e região, que a exceção tomou o lugar do que seria a regra, raro que é a semana que Ilhéus não sofre com algum apagão. As justificativas não passam do laudo da ocorrência, acusando um transformador que pifou, um raio que caiu, um curto circuito que fechou, etc, etc, etc,... menos a correta explicação de usura empresarial que negligencia os investimentos que há muito já deveriam ter sido feitos.

A zona Sul de Ilhéus e as localidades consideradas interioranas são as mais penalizadas, com a sucessão de apagões. Estes, agora, superam a marca recorde anterior e até de diários. Passaram a ocorrer diversas vezes por dia. É a COELBA SE SUPERANDO em cinismo e incompetência e levando junto os órgãos vendados e vendidos que deveriam estar cumprindo o papel de fiscalizar e punir, pelo sofrimento imposto aos cidadãos.

É na zona sul de Ilhéus que está instalado o principal parque hoteleiro da cidade e não é preciso lembrar que estamos vivendo a principal demanda turística do ano. Em virtude da irresponsável, defasada e anti técnica distribuição de energia feita pela COELBA, a cidade perde como um todo, enquanto o empresariado do setor, junto a comerciantes e população em geral, acumula e amarga enormes prejuízos, nunca reparados a contento, também face à demora nas demandas judiciais.

Isto tudo ocorre diante da inércia do Ministério Público que, ao que parece, tem gerador próprio.

Este equipamento, aliás, deverá passar a compor lista de eletrodomésticos necessários para a montagem de uma residência e poderá vir a habitar a lista de presentes de casamento, em breve, uma vez que já faz parte dos investimentos de muitos hotéis - que poderiam destinar o recurso para outras finalidades importantes - mas que não podem se arriscar. Uma câmara frigorífica de um grande hotel, restaurantes, contém milhares de reais em mercadorias perecíveis e, além disso, os equipamentos eletrônicos e eletrodomésticos, como todos sabem, não suportam essa instabilidade, o "vai e vem" constante de energia, danificando-os, irreparavelmente.

Mas a falta de comprometimento da COELBA com as cidades e suas populações não param por aí. O que vemos no cenário urbano é de fazer arrepiar os profissionais de engenharia, arquitetura, ambientalistas e afins. UMA VERGONHA! São postes danificados e prestes a cair, postes sem função que estão a servir de escora com cabo de aço para outro poste (Pça José Marcelino, Centro, Ilhéus, em frente ao Edifício Cidade Ilhéus), materiais que, ao que parece, ficam "estocados" no espaço aéreo da cidade, como rolos de fios que se acumulam, fios emaranhados que mais lembram teias de aranha no céu da cidade, poluindo visualmente o ambiente e emprestando um aspecto caótico e de desleixo ao espaço aéreo.

Em tempo, ao prefeito e câmara de vereadores, que se congraçam nas iniciativas de aumentar os impostos municipais, onerando a população, aí está uma fonte de recursos, da qual diversos outros municípios do país já se valem: a incidência de taxa de contribuição efetiva financeira pela utilização do nosso espaço público, aéreo inclusive, para distribuir, com muito lucro, embora precariamente, a energia.

Os problemas causados à distribuição de energia por transgressões às normas e licenciamentos legais, são de competência da companhia e não podem ser transferidos aos consumidores que cumprem seu papel e pagam pelo fornecimento, mesmo com o péssimo desempenho da distribuidora. Compete à Companhia e as autoridades judiciais combatê-los. No entanto, o contraste se evidencia, quando a nossa parte de consumidor não é cumprida e o corte do fornecimento vem, irremediavelmente, inquestionavelmente e inapelavelmente.

Devido a essa precariedade na distribuição de energia, devemos acrescentar que este é mais um item impeditivo para que grandes empresas se sintam atraídas a se instalarem nessa região e, especialmente, no nosso município.

Outro dia precisei solicitar a presença de técnicos devido à oscilação de tensão em minha residência. Depois de comparecerem e verificarem, sem a minha presença, que não era "nada", foram embora, obrigado-me a refazer a solicitação e esperar na madrugada, depois de uma discussão desagradável com o atendimento da COELBA. A viatura voltou e, sob a minha orientação, depois de muita teima, detectou o problema nos conectores que precisaram ser substituídos. Pasmem que, só então mediram a tensão. O mais interessante foi que, para saírem da porta de minha casa, retornando à base, tive de providenciar um compressor de ar para encher os pneus - pra lá de gastos e vazando - para que pudessem rodar.

Tenho certeza de que esta é uma opinião quase unânime na população, o que torna ainda mais surpreendente a passividade dos órgãos de controle, fiscalização administrativa e da área de direito, na defesa dos interesses da população. Estes últimos preferem os holofotes na área política, enquanto se promovem com campanhas publicitárias que enaltecem suas obrigatórias ações. Poucas são as manifestações de protesto, o que permite que a COELBA siga "NADANDO DE BRAÇADA", rindo-se do nosso infortúnio.

Mas ela não está sozinha nisto, há muita conivência e conveniências envolvidas nessa questão, algumas impublicáveis, como estamos cansados de saber.

Portanto, sem economizar palavras, não é injusto afirmarmos que a Companhia, altamente lucrativa, que deveria prestar um serviço de excelência à população, deve ser alvo de um processo de reestatização, sendo devolvida ao controle do estado, para posterior decisão sobre o destino desse controle. Pois, ao contrário de nos fornecer a energia que gera desenvolvimento, segurança e luz, mais tem se assemelhado às próprias trevas, que amedrontam e nos punem.

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O autor Alcides Kruschewsky é empresário e morador de Olivença