Parasitismo mórbido, por Bruno Peron

Uma análise profunda do País e do mundo
Reprodução

Um dos obstáculos ao progresso do Brasil e à instrução de brasileiros é o dissídio sobre a direção que se deve seguir para alcançar a realização da maioria. Ideias, preconceitos e convicções divergem tanto que acabam desorientando seus meio-cidadãos e representantes políticos. Naturalmente, num país de ignorantes, a culpa está sobretudo na falta de instrução e no sacrifício dos bodes expiatórios. Não existe convergência sobre como se imagina o Brasil daqui a tantos e quantos anos.

É assim que a política de reorganização escolar do governo do estado de São Paulo tenha sido tomada como estopim de protestos estudantis e tergiversações. E que também a crise dos privilegiados do Brasil tenha colocado sua presidente democraticamente eleita Dilma Rousseff na iminência de impedimento de governar. Embora estes sejam dois fenômenos diferentes, eles trazem na essência o medo de mudanças e de derrubada de privilégios. Temos aqui um parasitismo mórbido.

O Brasil não se deixa educar nem produzir. O fechamento de escolas ineficientes poderia, num cenário ideal, levar à abertura de outras instituições de ensino com um modelo que realmente funcione ao tempo que otimize os gastos públicos em educação. O mesmo deveria ocorrer com universidades financiadas pelo governo onde a maioria de seus estudantes são de famílias que podem pagar mensalidades. O setor privado poderia dar conta de muitas delas para que fiquem melhor alocadas.

Contudo, a mentalidade de que o Estado deve pagar salários e promover o banquete das elites corrói o país e gera uma casta de privilegiados e sanguessugas. Enquanto isso, o setor produtivo no Brasil não consegue valorizar tanto seus trabalhadores quanto poderiam porque o salário real se reduz com excesso de encargos. Tampouco os produtos brasileiros são tão competitivos no mercado quanto mereceriam se tivéssemos um sistema tributário justo, menos fiscais corruptos cobrando propinas de empresários, e mais estímulo à indústria nacional. Pior que isso, concretizam-se aumentos de taxas de água, combustível, luz...

Apesar de tudo, nós brasileiros continuamos fazendo nossas escolhas, por exemplo no que se refere à classe que nos representa politicamente. A meu ver, a reeleição do Partido dos Trabalhadores no poder Executivo foi uma tragédia para todos que esperávamos melhoras no país, mas o processo de impedimento da presidente só piora as coisas por desfocar dos problemas reais que embargam o Brasil.

É patente que há no Brasil fuga de investimentos, alta de preços, previsão de mais inflação, instabilidade do Real frente a outras moedas, fechamento de empresas, perda de empregos, e falta de confiança em negócios. Estes são sintomas de que pouco se tem feito para mudar o modelo que tolhe o Brasil em corrupção generalizada, máquina pública inchada e receio de investimentos.

Lamento, por tantos motivos, discordar dos espiritualistas que dizem que o Brasil tem vocação a ser “coração do mundo” e de outros que acreditam que aqui é um manancial de democracia. Com a persistência de nossos meio-cidadãos (p. ex. motoqueiros que dirigem encima da faixa entre os carros) e o desejo ávido de manutenção de privilégios (como centenas de funcionários do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro que ganham salários muito acima da média de mercado para funções equivalentes), não passaremos de um rincão produtor de alimentos e minérios, uma terra de bichos avessos a qualquer onda educadora.

Para reverter esse impasse fundamentalmente educativo e ético, há que contribuir com exemplos no cotidiano e a tolerância aos seres mesquinhos que encontramos diariamente nos logradouros públicos ou que vemos na televisão fazendo promessas. Não há que perder, assim, a esperança de limpeza da podridão que sufoca o Brasil há séculos e que nos avilta como se fôssemos bichos de zoológico.

Mas não pense, compatriota, que um mero clamor contra a Dilma ou um panelaço na janela do condomínio será suficiente para higienizar o Brasil. É preciso também tolerar o pensamento diferente, mas sem deixar que estas divergências prejudiquem o progresso do país e seu desenvolvimento cultural, econômico e social. O primeiro passo é colocar a França de lado como modelo de civilização para o Brasil devido às brutalidades e gafes que esse país europeu comete contra países islâmicos...

O conteúdo deste artigo não reflete necessariamente a opinião deste site.

O autor Bruno Peron  é escritor e analista de Relações Internacionais, professor de idiomas (português e Inglês) e Voluntário de Organizações SEM Nadadeiras lucrativos.