Tempo

Ana Virgínia Santiago
Divulgação

O sol acordava quando caminhei em direção ao mar, encantado presente de uma Energia Maior, para energizar minh`alma e iniciar o meu labor.

Passo por pessoas indo para seus afazeres, muitas já  nervosas (tão cedo...) porque estão com pressa, inúmeras que desconhecem o valor da vida e, com seus carros, desviam roteiros, ultrapassam quem obedece às normas, derrubam muros, gesticulam em busca do nada.

Tudo observo e penso no tempo... Tempo que precisamos internalizar em nosso coração para sobreviver melhor.

Tempo de ouvir o respirar, o que o corpo pede, o que o bom senso exige.

Tempo de jogar fora palavras que magoam, que ferem, que tiram a paz.

Tempo de acalentar a alma, fazê-la adormecer porque é chegado o momento em que se precisa sobrevoar outros espaços alheios à realidade para continuar.

Pensar o tempo. Tempo de se guiar pelos próprios pensamentos, questionar as emoções, parar  e saber o destino das quimeras e as certezas que foram norte na vida...

Tempo de indagar porque ficamos cegos e não enxergamos uma realidade que está tão visível abrindo a clara visão e persistimos em acreditar.

É tempo...

De questionar por que se ouviu apenas a voz que camufla e brinca de esconder com os desavisados de maldade e se deixou ficar com olhos fechados para a vida que passava diante dos olhos e sentidos.

Tempo de certas pessoas arrancarem de suas vidas a raiva, a inveja, a calúnia e o desamor  renascendo e destruindo nelas a mentira, o desrespeito e a ausência de caráter.

As calçadas não são mais pouso seguro para as pessoas. Nelas estão estacionados carros, muitas cobertas de mato e lixo.

Como fazer o trabalho como Faxineira se o que procuro limpar e aspirar são ausências de sentimentos e constato o desrespeito a partir  do que negam ao cidadão?

Ah! O tempo! Como seria bom todos repensarem...

Tempo de saber as formas de evitar as mágoas que criam elos na essência e maculam a alma amordaçando as vontades de amor e de bem querer.

Entristeço meu coração olhando as ruas tão sujas, a falta de higiene das pessoas, a ausência de direitos e deveres em minha aldeia tão linda. Bancos de praças destruídos, passeios provocando acidentes e quedas, falta de jardins, flores que encantam e alegram qualquer lugar.

Tempo de lembrar...

O tempo vai mostrando sua história. A memória de uma comunidade deve ser abraçada revivendo fatos, reverenciando ilustres que a dignificaram.

Aproxima-se o centenário de um homem das terras de Pirangi (Adonias Filho) que deixou gravadas historias da região cacaueira e precisa ser lembrado aqui  pois muito se falou desta terra e deixou uma obra admirável para a literatura.

Tempo de lembrar...

Uma obra, que se prepara para comemoração, também de seu centenário,  edificada numa colina abriu as fronteiras da educação para toda a gente grapiúna, alicerçou a existência na fé, na formação, na beneficência: O Instituto Nossa Senhora da Piedade!

Vejo pessoas insatisfeitas pelos calçadões, outras criticando sem conhecimento, muitas vendo a degradação de uma terra que precisa ser pensada com novos olhares.

É tempo de acordar. A vida adormece rápido.

É tempo de reflexões sobre as indiferenças, os atos de esquecimento, as  confidências ditas para messalinas e indignos que possuem o dom de aniquilar e distorcer. 

Ainda é tempo.

De preparar o coração até para a solidão  que precisa ser vivenciada em sua essência e também pode ser companhia.

Ainda é tempo para as reflexões profundas que ainda terão espaço se feitas com alma descansada.

Tempo para dizimar a intolerância e acomodar o entendimento, para vozes serem ouvidas, para competições  e perseguições demoníacas serem neutralizadas, porque é tempo de aliviar o coração para  a vida ser respeitada.

Volto ao meu trabalho...!

Ana Virgínia Santiago é jornalista, poeta e cronista no sul da Bahia