A solitude que acompanha as pessoas

Ana Virgínia Santiago
Divulgação

Passei um tempo por outras aldeias...

Aldeias que habitam numa redoma dentro de minh’alma e que energizam o meu ser, às vezes, tão doído.

Passei um tempo quieta, escondida no canto vital  de minha essência...

Percorri caminhos, muitos já conhecidos, tentando enganar as saudades que  voam comigo, principalmente num mês em que o verão se despede...

Passei por lugares, antes vividos, e que me embalaram e embebedaram de gentilezas o meu coração.

Caminhei, caminhei , gritei os meus gritos calados e amordaçados pelo sentimento de solitude (a não-solidão!) , que é a minha companhia iluminada e  aplaquei a minha dor que foi parida na beleza que é a vida.

Muitos contares reencontrados!

Tantos gestos nunca esquecidos.!

Quantos abraços renascidos!

Tudo isso para reencontrar o meu ponto de equilíbrio.

Tudo para enriquecer e preencher de companhias o que chamo de meu Santo Graal particular.

Eu, Faxineira de Ilusões,  inebriada de vontade de viver, preciso ,muitas vezes, abrir a caixa de Pandora e deixar os pensamentos-demônios que tentam escurecer  a minha rotina para prosseguir...

Preciso...

Abrir janelas, sentir minhas Frestas Iluminadas- dupla que me impulsiona à coragem de expurgar o que me amedronta -  e, amparada em bengala emocional, reaprender os passos  que norteiam a minha vida.

Preciso...

Abstrair as indiferenças despropositais, os erros de interpretação, as mágoas que dilaceram.

Amparar  em portos seguros as interrogações para que tomem seus rumos.

Passei um tempo quieta, escondida no canto vital  de minha essência...

Precisei parar na colina e. lá do alto,  repassar  as lições que aprendi há tanto tempo  e brincar de memória com as lembranças que um dia me fizeram tão feliz.

Ah! Como dói a trajetória que precisamos atravessar!

Como doem as palavras ouvidas sem merecimento, os gestos frios que desumanizam quem os dá!

Como é difícil exercitar a generosa capacidade de espairecer e dar as mãos ao perdoar!

Que luta insana abrir a visão de uma vaidade cega que só enxerga o próprio umbigo!

Passei um tempo quieta, escondida no canto vital  de minha essência.

Precisava caminhar... E caminhei e caminhei até cansar.

E parei numa aldeia especial onde uma casa diferente que tinha uma luz especial  atraiu o  meu olhar.

De dentro dela soavam violinos...

Lá tinha uma Mulher que me deixou entrar e, sem saber, arrancou a fórceps , a dor que me acompanhava naquele caminho de buscas.

Aquela Mulher vivia em total estado de  solitude – uma afinidade! – e alimentava o seu ser  nas palavras de tantos livros, nos sons de tantas músicas, nas cores de tantos sinais de arte.

Aquela Mulher revigorou o meu entender sobre a não-solidão, sobre a tristeza que dá alegria porque é acalantada por lembranças boas  e o vazio que pode ser preenchido por lampejos de vida eternizada.

Passei um tempo quieta, escondida no canto vital  de minha essência. E retornei ao meu canto aldeão. Mesmo na despedida de amigos queridos que retornaram à origem de todos nós, senti felicidade de novamente estar aqui removendo poeiras, limpando pensamentos imundos, aspirando desamores e lustrando belezas que fazem bem ao coração.

A autora Ana Virgínia Santiago é jornalista, poeta e escritora no sul da Bahia.