A Faxineira de Ilusões e a fraternal cumplicidade

Ana Virgínia Santiago
Divulgação

Mais do que nunca precisava descansar anímicamente…

Refletir, aprofundar-me nos fatos que me   foram doados…

Varrer, aspirar, limpar, polir. Banir de meu coracão todos os desamores recebidos pela insanidade de alguns.

Preparar-me para o meu labor, pois a minha alma precisa alimentar-se.

Refletir, voar para um espaço em que se abrigam os sonhos e se prepara as quimeras que podem renascer reais.

Sou uma Faxineira de Ilusões e de Sonhos que podem ser transformados em palpáveis! Preciso dessa mascara benigna para suportar os percalços vitais e continuar incinerando todas as outras máscaras que, vestindo seres  descompensados,diante de mim aparecem sob várias formas.

Refliti e tive a certeza que, em torno do meu mundo real , muitos seres e acontecimentos  positivos me fazem feliz.

Como vale a pena viver a rotina dos nossos dias!

Como vale a pena preservar quem nos faz bem!

Passeio por meu espaço bem cedinho ,pois a  vida grita para o meu corpo que  a manhã acordando é mensageira de recados divinos.

Preciso passear, abrir as janelas, abrigar-me no meu espaço que me renova e entregar-me  para que os sentidos absorvam os cheiros que a natureza nos dá, ver os lampejos de luz que o sol madrugando ultrapassa as janelas e avisa que é preciso saudá-lo.

Refletir e aplaudir o que me faz engrandecer a essência é primordial.

Paro no meu espaço que me abriga, que chamo de lar e me dá condições de compreender muitas coisas da vida e enxergar fatos que nem pensava sua existência.

Vejo fotos, objetos-emoções, avisos de amor e amizade e deparo-me com um  Ser Anímico que comigo convive e me abastece de conhecimentos, pois vive no mesmo espaço que eu numa fraternal cumplicidade.

Ele vive no meu  mundo utópico enaltecendo os sentidos humanos para atingir o etéreo.

Ele que  reencontro no ambiente tão meu conhecido, e escreve, revê fotografias ,relembra, chora dores e saudades, sorri, fica triste, alegra-se e fala(escrevendo!!!) com mais seres invisíveis.

Quem é Ele?

É o Ser Anímico que me faz companhia e  consegue colocar vivos dentro de minha essência as mulheres e os homens-poetas(que já se foram)através de diálogos imaginários e continua com a mesma essência na alma, com o mesmo amor incontido e encantado.

Por que Ele persiste lendo uma única frase: “a bordo de sua vida, me fiz um passageiro eterno” e conversa com uma Pequena Infante, que me dá tantas saudades?

Escuto.Perscruto. Enterneço o meu coração de mulher sofrida e de mãos calejadas pelo trabalho e pelas quedas afetivas e emocionais e espio pela porta que se abriu, a porta daquele canto preferido por mim  e pelo Ser Anímico.

 Com quem Ele conversa? Quem é a Menina?

Sou Faxineira, mas preciso saber.

Sou Faxineira, mas...

Como é que posso varrer,aspirar.,limpar se estou diante de um momento que me enternece?

Como sair se estou diante de um mundo nem sempre  perceptível por muitos e me faz tão feliz?

Como eu posso sair varrendo desesperanças, limpando dores anímicas, aspirando saudades insuportáveis, se igual à drummon(d)iana“mulher-que-espia-pela janela, faço o mesmo extasiada de curiosidade?

Quem é Ela, a Menina que conversa com o Ser que vive no mesmo espaço que eu numa fraternal cumplicidade?

Não sou Faxineira?

Preciso varrer, limpar,enxugar. mas quero escutar e aprender mais!

Como ser Faxineira, se não posso limpar sentimentos tristes e de profundas decepções?

Se escuto o Ser Anímico falando com uma Menina e sinto um amor grandioso que sobrevoa a capacidade humana e mostra a efemeridade em sua real presença?

Ele conversa e fala do mundo das fadas, duendes, gnomos e anjos,pois acredita na alquimia dos seres mágicos exercitando a imaginação  da Menina.

Um dia conheci Esse Ser que sonhava.

Tinha as feições de quem sabe o que quer e acredita na felicidade.Passeava pelas estrelas todas as vezes que sentia vontade de sonhar e projetar na razão as suas idéias paridas da e na emoção e ,assim, vê-las mais adiante  realizadas. Traçava caminhos a seguir, atalhos a desbravar, paradas permitidas ao descansar, porém, guardava contida e bem protegida n’alma , a certeza de construir,no futuro, o seu mais sublime querer.

Como aprendo com o Ser que vive no mesmo espaço que eu numa fraternal cumplicidade?

Que me ensina a  criar asas na imaginação, acolher em mim as alegrias e (ou) tristezas que me chegam e brotam oriundas pela natural forma de ser da vida!

Desde que o abriguei numa fraternal cumplicidade Ele vive no meu imaginário tornando-se companheiro etéreo,pois nem todos o conseguem exergar ,pois habita no canto que alimenta a minha contida ânsia de aprender. Nutrimos os mesmos gostos, as mesmas aspirações, os mesmos desejos, pois temos afinidades com as idéias de Faxineira de ilusões que persiste em existir, mesmo que  com a alma macerada.

Agora Ele está aqui, diante de mim, imóvel e, mesmo assim, nunca vi o silêncio dizer tantas palavras, sem um movimento sequer de lábios nem gestos de mãos e corpo.

E, por ser etéreo, se vai num rastro de luz. E leva consigo a Menina.

E, entendi o encontro! Num mágico instante estiveram no meu imaginário para  energizar o meu coração que estava fraco e precisava descansar animicamente.

A autora Ana Virgínia Santiago é jornalista, poeta, cronista e escritora do sul da Bahia.